terça-feira, 29 de novembro de 2011

Crianças na cama com os pais

Há muitos relatos de pais que passam pelo mesmo dilema com seus filhos na hora de ir dormir, contam que sua criança chora, perde o sono e só para quando colocada para dormir na cama junto com o casal.

Uns dos motivos pelo quais, pode haver essa ocorrência é que toda criança possui uma capacidade enorme de fantasiar, e desde os primeiros meses de vida, a mente do bebê, já funciona em pleno vapor, portanto, as crenças na onipotência de seus pensamentos estão muito fortalecidas, pois nesse momento eles são nada menos que, “vossa majestade o bebê”, onde, “Sabemos que o mundo estava lá antes do bebê, mas o bebê não sabe disso, e no início tem a ilusão de que o que ele encontra foi por ele criado”(Winnicott). Por conta disso, dormir pode representar um momento muito doloroso e ameaçador, onde, seus medos e inseguranças lhes são apresentadas através de monstros assustadores que se escondem debaixo da cama e dentro dos armários. Medos que se justificam em verdade, pelo fato de este ser o momento em que se separam de seus pais, e logo vem o temor de perdê-los, e até mesmo, dormir, pode estar vinculado à fantasia da morte, pois muito atrelam a morte com um sono que não acordam mais. Então, para afugentar-se de todos os seus temores, nada melhor que o aconchego da cama de seus pais.

O melhor caminho para evitar esse acontecimento, é estabelecer desde o nascimento do bebê uma rotina, na qual, de a ele a sensação de continuidade, pois através de uma seqüência de atividade que lhe for oferecido, (hora de mamar, hora do banho, hora do soninho, etc...) ele começará a se conectar com o mundo externo, dando-lhe mais confiança, pois, não será surpreendido a cada dia por situações diferente. Estabelecer uma rotina desde cedo na vida de uma criança, contribuirá para o fortalecimento do seu Ego.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O amor e a contemporaneidade


Considerando que o amor e o desejo fazem parte da nossa condição humana, podemos entender o enamoramento como sendo a atuação destas duas forças sob o individuo em relação à outra pessoa.

Em nossos tempos, observamos que o amor tem um corpo frágil e com pouca durabilidade. E se compreendermos que o amor sensual, ou seja, o amor que se investe para obter satisfação sexual se extingue logo quando alcança seu objetivo, podemos entender que a liberdade sexual da contemporaneidade tem sido, portanto, um grande fortalecedor para essa falta de continuidade no investimento libidinal em uma mesma pessoa, pois a facilidade de encontrar parceiro que se prestam ao mesmo objetivo acaba por banalizar qualquer vinculo afetivo terno e recíproco. Percebemos, então, que a monogamia transformou-se em um grande dilema, onde, os sujeitos sustentam a crença que não devem abrir mão do prazer pela segurança conjugal.

Os relacionamentos da atualidade tendem a se constituírem por pouco investimento, no entanto, pretendendo um companheirismo forte, que ao mesmo tempo reivindica por sua autonomia.

Resta-nos a seguinte reflexão: como conciliar a liberdade contemporânea e a conjugalidade?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Um olhar para a vida.

Um dia me perguntaram: qual o olhar da psicologia, para os portadores do vírus da AIDS?

Pensei... Acredito que se Freud, ou Foucault, ou Moises da Bíblia, ou qualquer outro observador da vida que estivessem vivos nos dias de hoje fossem falar sobre como é viver com AIDS, falariam da mesma forma, diriam: a vida é para os que se atrevem a viver, onde, nos ensaios e erros aprendemos a contemplar a sua formosura.... Claro, cada um falaria de sua maneira, essa foi apenas a minha.

Quando perdemos algo que amamos de forma súbita, sentimos que parte de nos se desvalesse juntamente com o que se foi, mas com o passar dos dias, vamos elaborando essa dor e dando a este sentimento de perca um novo sentido.

Isso acontece com a maioria das pessoas que recebem a notícia de estarem portando o vírus da AIDS, no primeiro momento vem a vontade de não ter vivido para ter recebido essa notícia, porém a medida que o tempo vai passando, a vontade de viver vai dando um novo sentido a essa dor. E vemos que muitos que portam o vírus da AIDS, passam a ter uma vida de muito mais qualidade, não só devido as cuidados com a sua saúde, mas por conta de um novo olhar que passam a ter em relação à vida.

O olhar da psicologia aos portadores do vírus da AIDS é o olhar da vida, no que há de potencial em sua existência, de forma nenhuma reduzimos a existência a um estado de saúde.

É claro, que se perguntarmos a qualquer pessoas, se elas prefeririam viver sem o vírus, elas diriam que, sim. Porém, não podemos negar a existência de uma vida, ainda que com vírus.

Portanto, qual seria a diferença das pessoas que portam o vírus da AIDS, para as pessoas não portadoras?

Nenhuma!! A diferença estar no compromisso que cada um assume com a sua vida, e em alguns casos esse compromisso só acontece após o recebimento de uma má noticia.


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O artista do set analítico

Eu quero, chamar a atenção para o corajoso documentário brasileiro, "Lixo Extraordinário", onde além mostras histórias verdadeiras de catadores de lixo ou melhor de catadores de matérias recicláveis, mostra também um olhar que foi capaz de capturar uma beleza escondida no meio dos escombros de lixos.

Sim, fiquei pensado: essa deve ser a grande diferença entre o artista e um mero ser mortal, pois o artista não vê só o obvio, ele consegue contemplar uma beleza não dita, acomodar o caos e desvendar um segredo na escuridão.
No filme, acompanhamos o trabalho do artista plástico Vik Muniz, que vai a um dos maiores aterros sanitários do mundo para fotografar os catadores e reproduzir fotos de famosos artistas com materiais recicláveis.

Após recolher vários lixos separados por esses catadores fotografados, o artista de um lugar suspenso, projeta a foto ampliada em uma tela especial colocada no chão, e os catadores orientados pelo artista vão acomodando os lixos e preenchendo os espaços de modo que pouco a pouco vai sendo configurando uma imagem. Ao final é possível ver o rosto expressivos daqueles catadores transformados em uma grande obra de arte, que é claro, não se reduz simplesmente em uma obra de arte, mas na possibilidade de se imaginarem indo além do "lixão de Gramacho".

Então, para mim foi impossível não comparar o trabalho desse artista com o lugar do analista, pois, para nós o set analítico se torna o grande espaço de criação e a subjetividade nossa preciosa matéria prima, que muitas das vezes chega desorganizada, faltando partes, como um lixo...
E é de um lugar em suspenso, onde não cabe julgamento, acolhemos esses pensamentos e junto com nossos analisandos trabalhamos para encontrar o lugar para esse material. Pouco a pouco vai se compondo um vida psíquica integrada, com forma e possível de ser contemplada na sua beleza e singularidade.
Freud dizia que, ainda que uma rosa dure apenas uma noite, ninguém poderá roubar a sua beleza, e por mais que seja indeterminado o nosso tempo de vida, ninguém poderá roubar a beleza do viver..

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A arte do viver

Ao longo do meu percurso acadêmico me confrontei com textos de vários autores e principalmente com os das obras de Freud, que me transportava para grandes momentos de reflexão a respeito da arte do viver e dos modos de adoecer. Subseqüentemente era levadada a acreditar, que, para praticar tal arte o individuo deve possuir um estado de saúde mental, mesmo que mínimo, para poder suportar toda a dor que vem do próprio fato de viver.

Porém, pensar num estado de saúde mental, capaz de dar conta de toda complexidade que o viver exige é uma outra problemática, pois, a tentativa de compor uma formula certa para distinguir a vida psíquica na condição de saudável, exigiria negarmos a singularidade de cada indivíduo. Portanto, compreender a forma de organização psíquica que contribua para que o sujeito tenha condição de enfrentar árdua luta do viver de modo a ganhar existência subjetiva, pode transcender a qualquer saber. Deleuze ([1925]1995), em Crítica e Clínica, declama. “Qual saúde bastaria para libertar a vida em toda parte onde esteja aprisionado pelo homem, pelos organismos e gêneros e no interior deles?”.

Acredito que o mais recomendável ao entrarmos neste campo da saúde psíquica, é pensar no que é, ou no que foi possível para um individuo criar como estratégias de sobrevivência, como barreira de proteção ou “escudo protetor” para se defender de suas dores e das exigências da vida e poder seguir vivendo.

E assim como há uma complexidade exigida no ato de viver, ao pensarmos no adoecer como efeito dessa exaurida atividade, que é sentida não só no corpo físico, mas, principalmente no campo psíquico, requer que tenhamos cuidado para descrever todos os processos aí implicados, e não reduzir nem para o âmbito do psiquismo, nem tampouco para o do biológico. Contudo, cabe que elaboremos uma profunda analise a respeito do modo como o ser humano vai criando formas de organizar-se, entendendo que desde o inicio da vida, ele foi marcado pelas historias, dramas e pelo investimento e funcionamento pulsional, daqueles que deram suporte ao seu existir.